sexta-feira, 1 de julho de 2011

Gravuras no Vento III

É flor esquecida, esta que resta no mármore, lembrando outra vida? Um fruto maduro, pendente, precisamente na linha do muro. Trapos do abandono — do espantalho — vai levando o vento do outono. Sob o anil do céu e ao sol — branco — um enxoval num varal, ao vento... Tê-las nas mãos quis, pois jamais alguém falara ao cego, de estrelas. Junquilhos envergam. Flores de neve pousando nas hastes, de leve. Na rua deserta — desperdício — eis que ela passa numa hora incerta. Flor de velho amor, expressiva? Só se for — morta — a sempre-viva. Serão. Ninguém fala. Somente os trilos dos grilos nos desvãos da sala. Grávida ela passa, e como vai cheia, cheia de Vida e de Graça. E o menino via: afinal, esse "natal"... não o merecia. Não mais florescentes, no lixo largadas, são flores — defloradas. Tatuagem móvel no pavimento: a ramagem ao luar e ao vento. Que Deus o proteja não pede. O que pede é pão na porta da igreja. Andorinhas: fusas na pauta dos fios, ou... ou semi-confusas? Pétalas levava — eram rosas — nas suas, outras mãos, nervosas. Sim, cantar mas sem — como a cigarra — pensar que a morte lhe vem. Musicalizado na folhagem, vai o vento, músico em viagem. Mudos nas estantes, são pacíficos soldados? Mudos mas prestantes. Quase um rei deposto. Não mais arde o sol da tarde. No espelho, o seu rosto. Auroralmagia! O canto claro dos galos clareando o dia. Lâmina de luz — a lagoa — estilhaçada sob a chuvarada. O mal da intriga sofre o mundo mas, ao monge, o silêncio abriga. Somente a ilumina — à imponente nave em sombras — uma lamparina. Brutos lenhadores mas bastante foi que vissem um ninho entre flores. Túmida e sangrenta, da escura folhagem surge lenta, lenta, a lua. Lavando e cantando, o riacho e as lavadeiras, cantando e lavando. Quebrado o relógio, fez-se eternidade o tempo desmecanizado. Por entre os telhados, mamoeiras, bananeiras — bem domesticados. Numa folha escrevo todo um poema: seu nome. Na folha de um trevo. Na concha rosada de uma pétala, uma pérola de orvalho, engastada. Bagunça, arruaça, nenhuma... a não ser dos pombos, os donos da praça. Sombra do seu corpo diz que sou, mas foge e faz sombra em minha vida. Seixo — ao léu rolado, rolarrolando... exilado peso-de-papel. Causa de desgosto, a mensagem vai no rosto como tatuagem. Na ramada nua pousado, um corvo, calado, vê nascendo a lua. Na clara do céu flutua — lua de fogo — a gema do sol. Acaso... um acaso? Ou proposital derrame de tintas no ocaso? Difuso e em surdina, o rumor de uma cascata dentro de uma neblina. Pétalas caídas ou borboletas dormidas que o vento desperta? Não lhe serve a prosa. Só em linguagem poética diga o nome "rosa". 

Oldegar Vieira

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